quarta-feira, 18 de abril de 2007

MINEIRA E VIRGÍNIA


O olhar confuso e perdido revela o pânico da criança que busca proteção no colo da mãe, ambas escondidas num ponto de ônibus, no meio de um tiroteio. Elas estão numa rua, que deveria ser pública, mas no Rio de Janeiro de 2007, não há vias de acesso livres para o povo. Há morros, becos, favelas, bairros e áreas dominadas por grupos de criminosos. E coitada da pobre mãe que precisa levar sua filha para o colégio. Só mesmo se protegendo dos tiros em pontos de ônibus que servem de barricadas na guerra civil que se espalha numa cidade antes chamada de Maravilhosa. Me desculpem os cariocas e afins, mas eu não gostaria de arriscar a vida da minha filha toda vez que saíssemos à rua.

Nos últimos três anos, mais de 20.000 pessoas foram assassinadas no Rio, a maioria na área metropolitana da capital. É mais que seis vezes o número de mortes de norte-americanos no Iraque desde 2003. Um artigo publicado pela Reuters Brasil no início do mês relata a experiência dramática do diretor de um dos maiores hospitais públicos do Rio, o Getúlio Vargas. Carlos Chaves diz:
" É como se o hospital ficasse no meio de uma zona de guerra. A única diferença de uma guerra é que aqui não há trégua".

Pena que esta semana o mundo não olhou para o Morro da Mineira como olhou para a Virgínia. O massacre na universidade americana merece destaque pela brutalidade e estupidez. Mas o olhar de pânico da criança perdida no meio de um tiroteio é o retrato cruel de uma sociedade atônita diante da insegurança.

A diferença é que Cho Seung-Hui pagou US$ 571 pela arma que usou para matar 32 inocentes. No Rio de Janeiro o bandido da esquina não precisa nem pagar. Mata um policial e rouba a arma. Depois mata sabe Deus quantos inocentes.

5 comentários:

Marcelo Thomaz disse...

O blog de vcs tá excelente. Jornalismo de primeira. Já faz parte do meu dia.
Sugiro que comentem tb algumas noticias que não fizeram as manchetes.
Sucesso pra vcs.

Anônimo disse...

dois países, duas realidades, um mesmo problema: violência...

Silvia Mizuno disse...

E ainda me perguntam: "por que vc não vai ao Rio?"

CHICO FIREMAN disse...

"Rio, cidade do arrepio, esta é a nossa casa, my brother" (Evandro Mesquita antes de saber no que o Rio iria dar...)

Anônimo disse...

Muito legal! Visual sem poluição, reportagens diretas com links para explicações para quem precisa e bastante diversificadas.
Estão de parabéns! Muito sucesso!
Tati